Neste fim de ano quando fazemos retrospectivas: os melhores do ano, melhor filme, melhor atuação, o melhor dos melhores, por que
não fazer uma retrospectiva do que a vida nos deu de presente, ou
em tempo, do que fizemos com o tempo que a vida nos deu?
O que ficou daquela infância com gosto de pitanga e terra molhada,
das pipas que voaram de nossas mãos levando esperanças e sonhos
para um céu sem fim. Das tardes lentas, quando a chuva não parava, e era gostoso comer pão quentinho à beira do fogão a lenha. Em que parte de mim ficou tudo isso escondido,para que hoje eu saia a pescar no fundo do aquário da memória? Para onde fui depois daquela adolescência ora triste ora alegre, quando as roupas não não cabiam em meu corpo de menina, ora criança ora mulher ?
E esse sentimento louco de primeiro amor, primeiro beijo, primeiras
descobertas de um sexo ainda tabu? Sobreviveu? Ou a vida foi
apagando, diluindo, não precisando, esquecendo até se tornar
lembrança no papel.
Neste andar para trás, não quero lembrar perdas, mortes nem
partidas sem despedidas, os fim de caso, o amor transformado
em rotina. Não, nada disso vai me fazer sofrer de novo. É passado,
e quando não é bom, a gente esquece. Ou finge que esquece.
Não se pensa, não se relembra. Era, não é mais.
Quero lembrar das coisas boas que chegaram de surpresa, sem que
pudesse imaginar, ou das quais lutei muito para obter. Quero lembrar de como costurei meu tempo, entre as pessoas que amei, cuidei e me entreguei com verdadeiro amor ou amizade.
Foram muitas tardes e noites, foi quando aprendi a exercer a paciência, gota a gota, num exercício de crescimento. O que deu impulso ao meu continuar.
De tudo que recebi, o presente maior foi a vida - e depois
o de criar a vida: meu filho.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
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como você sabe o jogo das palavras e permiti ser agradável ler seu texto poético, onde nos permiti um encontro no nosso interior.
ResponderExcluirTãnia Lopes
Vc é famosa? Já publicou livros? Vive de literatura?
ResponderExcluirCreio que poesia não remunere ninguém, pelo menos não no Brasil. Pelo menos não a mim!
Mas te digo uma coisa, quanta coisa boa e linda vc escreve!
Nossa! Estou de cara! Normalmente leio tudo com um pé atrás, mas... vc tem muito fôlego!
Quanta coisa boa escrita, são muitos livros!
Queria ser editor, te publicaria!
Tenho sempre a impressão de que o eterno retorno existe! E o céu azul coalhado de pipas, as manhãs amarelas com gosto de pitanga e o cheiro de terra marrom molhada da infância voltarão, fugirão...em moto-contínuo onírico....
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